O conclave é o processo solene e secreto pelo qual os cardeais da Igreja Católica elegem o novo papa. Segue um protocolo rigoroso, estabelecido por leis canônicas e tradições centenárias, muitas delas definidas na constituição apostólica “Universi Dominici Gregis” (1996), promulgada pelo Papa João Paulo II, e com ajustes posteriores, como os feitos pelo Papa Bento XVI em 2007 e pelo Papa Francisco em 2022.
Abaixo, descrevo os principais passos do conclave:
1. Morte ou Renúncia do Papa
- O conclave é convocado após a morte ou renúncia do papa (como ocorreu com Bento XVI em 2013).
- O decano do Colégio Cardinalício anuncia oficialmente o falecimento e inicia os preparativos.
2. Período de Sede Vacante
- O trono de São Pedro fica vago (“Sede Vacante”), e o governo da Igreja é assumido pelo Camerlengo (cardeal responsável pela administração temporária).
- Os cardeais se reúnem em Congregações Gerais para discutir questões urgentes e preparar o conclave.
3. Convocação dos Cardeais Eleitores
- Apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar (máximo de 120 eleitores, segundo regras atuais).
- Eles são isolados do mundo exterior no “Anexo da Capela Sistina”, no Vaticano, até que um novo papa seja escolhido.
4. Juramento de Segredo
- Antes de iniciar, os cardeais juram manter sigilo absoluto sobre as votações.
- Qualquer violação pode acarretar em excomunhão.
5. O Processo de Votação
- As votações ocorrem na Capela Sistina, sob os afrescos de Michelangelo.
- Fases da votação:
- Pré-scrutínio: Distribuição de cédulas de papel com a frase “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”).
- Scrutínio: Cada cardeal escreve o nome de seu candidato, dobra o papel e o deposita no cálice sobre o altar.
- Pós-scrutínio: Os votos são contados em voz alta por três cardeais (escrutinadores).
- Queima dos votos: Após a contagem, as cédulas são queimadas.
- Fumaça branca (“Habemus Papam”): indica eleição.
- Fumaça preta: votação inconclusiva.
6. Maioria Necessária
- Até 2022, eram necessários 2/3 dos votos para eleger o papa.
- Em 2022, o Papa Francisco restabeleceu a regra dos 2/3 absolutos (sem possibilidade de maioria simples após certo número de votações).
7. Aceitação e Anúncio
- O eleito deve aceitar o cargo. Se recusar, o conclave recomeça.
- Se aceitar, escolhe um nome papal e veste as vestes brancas.
- O cardeal protodiácono anuncia ao mundo:
“Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam!”
(“Anuncio-vos uma grande alegria: Temos um Papa!”).
8. Bênção “Urbi et Orbi”
- O novo papa aparece na loggia central da Basílica de São Pedro e dá sua primeira bênção.
Curiosidades e Tradições
- Isolamento total: Os cardeais ficam hospedados na Casa Santa Marta e são proibidos de contato com o exterior (sem celulares, internet ou visitas).
- Fumaça química: Para evitar confusão, hoje usa-se produtos químicos (perclorato de potássio para branca; lactose e betume para preta).
- Papabile: Cardeal considerado favorito à eleição.
O conclave é um dos processos mais antigos e simbólicos da Igreja, mesclando oração, discrição e tradição em busca de uma decisão inspirada pelo Espírito Santo.
Vários cardeais brasileiros participaram de conclaves ao longo da história, especialmente nos séculos XX e XXI. Abaixo, listo os cardeais eleitores brasileiros que estiveram presentes nos conclaves mais recentes:
Conclave de 2005 (Eleição de Bento XVI)
Participaram 5 cardeais brasileiros (todos com direito a voto, pois tinham menos de 80 anos):
- Dom Cláudio Hummes (Arcebispo de São Paulo)
- Dom Geraldo Majella Agnelo (Arcebispo de Salvador)
- Dom José Freire Falcão (Arcebispo de Brasília)
- Dom Serafim Fernandes de Araújo (Arcebispo de Belo Horizonte)
- Dom Eusébio Oscar Scheid (Arcebispo do Rio de Janeiro)
(Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo, já tinha mais de 80 anos e não pôde votar.)
Conclave de 2013 (Eleição de Francisco)
Participaram 5 cardeais brasileiros:
- Dom Odilo Pedro Scherer (Arcebispo de São Paulo)
- Dom Raymundo Damasceno Assis (Arcebispo de Aparecida)
- Dom João Braz de Aviz (Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada – no Vaticano)
- Dom Geraldo Lyrio Rocha (Arcebispo de Mariana)
- Dom Dom Orani João Tempesta (Arcebispo do Rio de Janeiro)
(Dom Cláudio Hummes, já com mais de 80 anos, não pôde votar, mas foi um dos primeiros a saudar o Papa Francisco após a eleição.)
Conclave de 2025? (Futuro, se ocorrer)
Atualmente (2024), os cardeais brasileiros com menos de 80 anos (e, portanto, possíveis eleitores) são:
- Dom Odilo Pedro Scherer (São Paulo) – 74 anos
- Dom Orani João Tempesta (Rio de Janeiro) – 73 anos
- Dom Sérgio da Rocha (Arcebispo de Salvador) – 64 anos
- Dom Paulo Cezar Costa (Arcebispo de Brasília) – 58 anos
- Dom Leonardo Ulrich Steiner (Arcebispo de Manaus) – 73 anos
(Se um conclave ocorrer antes que completem 80 anos, estes seriam os eleitores brasileiros.)
Observações importantes:
- Dom Cláudio Hummes foi uma figura-chave no conclave de 2013, influenciando a eleição do Papa Francisco.
- Dom João Braz de Aviz foi o primeiro brasileiro a ocupar um alto cargo na Cúria Romana com direito a voto em um conclave.
- Nenhum brasileiro foi considerado “papabile” (favorito a papa) em conclaves recentes, mas o Brasil tem grande peso no Colégio Cardinalício por ser o maior país católico do mundo.
Se houver um novo conclave nos próximos anos, o Brasil continuará tendo representação significativa entre os eleitores.