Cid afirma que dinheiro foi entregue em uma caixa de vinho
Em novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o general da reserva Walter Braga Netto teria entregue dinheiro em espécie para financiar uma operação ligada à tentativa de golpe de Estado em 2022.
Cid foi o primeiro a prestar depoimento nesta segunda-feira (9) no processo criminal que investiga uma suposta trama golpista envolvendo Bolsonaro, Braga Netto e outros aliados do alto escalão militar e político. Segundo ele, o recurso foi repassado de forma discreta em uma caixa de vinho, no Palácio da Alvorada, e seria usado para custear o deslocamento de manifestantes de outros estados até Brasília.
O que disse Cid
De acordo com o depoimento, Cid foi procurado pelo major Rafael Martins de Oliveira, que pediu apoio financeiro para levar manifestantes do Rio de Janeiro à capital federal. Ele então teria recorrido a Braga Netto, que inicialmente recomendou buscar apoio junto ao Partido Liberal (PL). O partido, no entanto, recusou-se a financiar o movimento.
Na sequência, ainda segundo o tenente-coronel, Braga Netto resolveu “dar um jeito” e enviou uma quantia inferior a R$ 100 mil, entregue pessoalmente em uma caixa de vinho. Cid afirmou que, à época, imaginava se tratar apenas de ajuda para viabilizar protestos. No entanto, ele disse que a Polícia Federal identificou conexões entre a operação e um plano radical chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que incluía o assassinato de figuras como Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Contexto da investigação
As revelações integram o inquérito da Operação Contragolpe, que apura o envolvimento de militares e aliados do governo anterior na tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Braga Netto, que foi ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, já havia sido preso em dezembro de 2024 e indiciado por tentativa de golpe.
O general também foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político, em julgamento ocorrido em 2023.
Etapas do processo
A série de oitivas segue até sexta-feira (13) e inclui depoimentos de Bolsonaro, Braga Netto (por videoconferência) e outros réus. O julgamento criminal do caso pode ser pautado ainda neste segundo semestre.
O depoimento de Cid reforça a tese da Procuradoria-Geral da República de que havia um núcleo operacional e financeiro por trás da tentativa de ruptura institucional.