A eleição presidencial de 2026 ainda está distante no calendário, mas as indefinições dentro da direita brasileira já acendem um sinal de alerta. A declaração recente de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de que “quem vai decidir é o Bolsonaro” sobre uma eventual candidatura de Michelle Bolsonaro, escancara um problema crônico no campo conservador: a insistência do ex-presidente Jair Bolsonaro em se manter como o grande protagonista — mesmo estando inelegível.
Bolsonaro, barrado pela Justiça Eleitoral até 2030, segue resistindo à ideia de abrir espaço para lideranças emergentes dentro do próprio campo político. A possibilidade de lançar sua esposa, Michelle Bolsonaro, como uma espécie de extensão familiar de seu projeto político, revela não apenas um plano de sobrevivência, mas também uma dificuldade de aceitar que o ciclo bolsonarista pode não ser mais suficiente para garantir uma vitória em 2026.
Nos bastidores, cresce a percepção de que Bolsonaro nutre um visível “ciúme eleitoral” do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje o nome mais bem posicionado da direita no tabuleiro nacional. Apesar de ter sido alçado à política justamente pelas mãos de Bolsonaro, Tarcísio tem construído uma imagem de gestor, menos atrelada às pautas ideológicas radicais e mais focada em resultados — exatamente o perfil que poderia ampliar o eleitorado conservador rumo ao centro, e tornar a direita mais competitiva.
O problema é que Bolsonaro parece disposto a adiar qualquer decisão sobre o futuro do campo conservador, mantendo a direita refém de sua própria indefinição. A estratégia, que lembra o movimento de Lula em 2018 — quando mesmo preso manteve sua candidatura até o limite —, pode ser fatal. Afinal, enquanto o ex-presidente finge não ver sua inelegibilidade, aliados e potenciais candidatos perdem tempo precioso na construção de um projeto viável.
O cenário fica ainda mais complexo quando se observa que, para Bolsonaro, o “plano B” não é um nome de fora, tampouco alguém com trajetória política consolidada, mas sim alguém de dentro da sua própria casa. A tentativa de empurrar Michelle Bolsonaro para a linha de frente parece menos um projeto coletivo e mais um gesto de manutenção de controle dentro do próprio bolsonarismo.
Se a direita brasileira não encontrar rapidamente uma saída que passe por superar o personalismo bolsonarista, corre o sério risco de entrar em 2026 enfraquecida, desunida e, consequentemente, sem reais chances de disputar o Palácio do Planalto.