No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava a pandemia de Covid-19, um marco que inaugurou um dos períodos mais sombrios da história moderna. Quatro anos depois, o mundo ainda tenta digerir as cicatrizes deixadas por uma crise que expôs as fragilidades dos sistemas de saúde, as desigualdades sociais e a incapacidade de muitos líderes de agir com responsabilidade. No Brasil, o cenário foi ainda mais caótico, com um governo federal que negou a ciência, atrasou a vacinação e contribuiu para que o país se tornasse um dos epicentros globais da doença.
O custo humano: milhões de vidas perdidas
Desde o início da pandemia, mais de 7 milhões de pessoas morreram em todo o mundo devido à Covid-19, segundo a OMS. No Brasil, o número de óbitos ultrapassou 700 mil, um dos maiores do planeta. Em 2021, o país chegou a registrar mais de 4 mil mortes diárias, com hospitais superlotados, falta de oxigênio e filas intermináveis em cemitérios. Hoje, embora a média diária de óbitos tenha caído para cerca de 100, o vírus ainda circula, e o descaso com a vigilância epidemiológica preocupa especialistas.
A tragédia da vacinação: atrasos e negacionismo
Enquanto países como Israel e Estados Unidos iniciaram suas campanhas de vacinação em dezembro de 2020, o Brasil só começou a imunizar sua população em janeiro de 2021, após meses de negociações desastrosas e falta de planejamento. O atraso foi agravado pela postura negacionista do então presidente Jair Bolsonaro, que repetidamente minimizou a gravidade da doença, promoveu tratamentos sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina, e chegou a ridicularizar o uso de máscaras e medidas de isolamento social.
Frases como “é só uma gripezinha” e “e daí? Lamento, quer que eu faça o quê?” ecoaram como um símbolo da falta de empatia e responsabilidade do governo federal. Bolsonaro não apenas falhou em coordenar uma resposta nacional à pandemia, mas também sabotou esforços estaduais e municipais, criando um ambiente de desinformação e polarização que custou vidas. A CPI da Covid, instalada no Senado, revelou um cenário de omissões, corrupção e má gestão, mas poucos responsáveis foram efetivamente punidos.
Desigualdade e o colapso do SUS
A pandemia escancarou as profundas desigualdades do Brasil. Enquanto as elites puderam se isolar em home office e garantir acesso a testes e tratamentos, a população mais pobre enfrentou a falta de leitos, a escassez de medicamentos e a impossibilidade de cumprir o isolamento social. O Sistema Único de Saúde (SUS), já subfinanciado, foi levado ao limite, com profissionais de saúde exaustos e insumos básicos em falta. Apesar de ter sido essencial para salvar vidas, o SUS foi mais uma vez negligenciado pelo poder público, que falhou em garantir investimentos adequados mesmo durante a crise.
O legado: o que aprendemos (ou não)
Quatro anos depois, o legado da pandemia é ambíguo. Por um lado, a ciência mostrou sua capacidade de resposta, com o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde. Por outro, a desinformação e o negacionismo ganharam força, alimentados por líderes irresponsáveis e redes sociais que amplificaram teorias conspiratórias.
No Brasil, a pandemia acelerou a digitalização de serviços e a conscientização sobre a importância da saúde pública, mas também revelou a falta de preparo para crises sanitárias. A CPI da Covid apontou caminhos para melhorar a gestão de futuras emergências, mas muitas de suas recomendações foram ignoradas. O governo federal atual, embora mais alinhado com a ciência, ainda enfrenta desafios para reconstruir a confiança da população e fortalecer o SUS.
Conclusão: um futuro incerto
A pandemia de Covid-19 foi um teste de resiliência para a humanidade, e o Brasil falhou em muitos aspectos. A negligência do governo federal, a falta de coordenação nacional e a desigualdade social transformaram uma crise sanitária em uma tragédia anunciada. Quatro anos depois, o vírus ainda circula, e as lições da pandemia parecem ter sido esquecidas por muitos.
Enquanto o mundo tenta se recuperar, é essencial lembrar que a saúde é um direito de todos e que a preparação para futuras crises exige investimentos, planejamento e, acima de tudo, respeito à ciência e à vida. A pandemia pode ter acabado oficialmente, mas suas consequências ainda ecoam, e o preço da negligência continuará a ser pago por muito tempo.