Prisão de influenciador expõe a força — e a omissão — das redes sociais no Brasil

A prisão do influenciador paraibano Hytalo Santos, ocorrida em São Paulo nesta sexta-feira (15), escancara uma contradição perigosa do nosso tempo: enquanto a internet é capaz de acelerar o debate público, também revela a lentidão de um sistema judicial que, por vezes, só se move quando a pressão virtual se torna insustentável.

No caso de Hytalo, a denúncia que provocou a revolta generalizada nas redes partiu de um vídeo publicado pelo criador de conteúdo Felca. Nele, foram expostos trechos e comportamentos que sugeriam a “adultização” de crianças e adolescentes em conteúdos digitais. O impacto foi imediato: milhões de visualizações, debates acalorados e um clamor popular para que providências fossem tomadas.

Mas aqui está o detalhe incômodo: a Justiça já investigava Hytalo Santos havia um ano. O Ministério Público da Paraíba havia determinado medidas como a proibição de contato com menores e a suspensão da monetização de seus perfis. Apesar disso, o processo seguia arrastado, sem grandes avanços perceptíveis — até que a pressão das redes sociais fez a questão ganhar prioridade.

Essa dinâmica expõe dois problemas graves. Primeiro, a dependência cada vez maior de “gatilhos virais” para que investigações ganhem tração, como se a repercussão fosse mais relevante do que a gravidade dos fatos. Segundo, a ausência de regras firmes e eficazes para proteger menores no ambiente digital brasileiro.

Enquanto países como França e Austrália já discutem leis específicas para restringir a exposição de crianças nas redes, o Brasil ainda engatinha em medidas pontuais, quase sempre reativas. Casos como o de Hytalo mostram que não basta punir depois que o dano está feito: é preciso criar marcos regulatórios claros, responsabilizando não só os criadores de conteúdo, mas também as plataformas que lucram com esse tipo de exposição.

O episódio reforça que as redes sociais são, ao mesmo tempo, palco e juiz — mas não podem ser vistas como substitutas do sistema de proteção à infância. A internet tem poder para mobilizar, mas cabe ao Estado agir com rapidez, antes que a próxima tragédia precise virar “tendência” para ser levada a sério.

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