Na audiência de custódia deste fim de semana, Bolsonaro surpreendeu ao afirmar que tentou abrir a tornozeleira eletrônica porque sofreu um episódio de alucinação e paranoia, supostamente provocado pela combinação de dois medicamentos. Segundo ele, uma espécie de “vozes” ou sensação de que havia uma “escuta” no dispositivo teria desencadeado a ação.
Se até então o debate público girava em torno da tentativa de fuga, agora o caso se desloca para outra linha de discussão: o estado psicológico do ex-presidente no momento em que decidiu manipular o monitor eletrônico.
O peso político do surto relatado
A versão apresentada por Bolsonaro pode alterar — ou, ao menos, tensionar — o debate interno no Judiciário.
Não há sinal de que isso aliviará sua situação, mas o conteúdo da audiência de custódia cria novas zonas de interpretação sobre:
- sua capacidade de discernimento no momento da tentativa;
- a influência de medicamentos no comportamento;
- e até o grau de vulnerabilidade física e mental que ele vem alegando há meses.
Esse desdobramento não deve resultar em reversão imediata de sua prisão preventiva, mas oferece uma narrativa alternativa que sua defesa certamente explorará nos próximos movimentos processuais.
A tornozeleira vira símbolo de colapso
Desde que a tornozeleira foi imposta, aliados tratavam o equipamento como um gesto de humilhação — uma peça simbólica na guerra entre Bolsonaro e o Supremo. Mas o relato do ex-presidente vai muito além disso: ele afirma ter usado um ferro de solda no dispositivo devido às alucinações.
O objeto que antes era tratado como símbolo político agora entra para a história como estopim de um surto.
Essa mudança narrativa tem impacto direto na opinião pública. Parte de seus apoiadores interpreta o episódio como mais um capítulo de perseguição; outra parcela vê sinais de desgaste emocional profundo; e críticos tratam a justificativa como tentativa de suavizar a gravidade da ação.
Os próximos movimentos
O caso, que já parecia resolvido na esfera imediata — prisão decretada, audiência realizada e preventiva mantida — agora entra numa nova fase.
Os desdobramentos possíveis incluem:
1. Avaliações médicas e pedidos da defesa
Não seria surpresa se os advogados solicitassem exame psiquiátrico ou laudos complementares, tentando demonstrar que a ação não foi racional.
2. Novas medidas do STF
O Supremo deve avaliar a gravidade da tentativa de violar o monitor e a consistência do argumento do surto.
3. Impacto na direita bolsonarista
O episódio gera fissuras internas: alguns veem a justificativa como fragilização da imagem de liderança forte; outros preferem tratar o caso como exagero da Justiça.
4. Efeito no longo prazo
A narrativa de alucinação pode acompanhar Bolsonaro de agora em diante — seja como argumento jurídico, seja como munição política em qualquer direção.
Um caso que muda de camada
O episódio não é apenas mais um capítulo da prisão do ex-presidente.
O que antes parecia um caso estritamente policial agora adquire nuances psicológicas, médicas e simbólicas — e transforma a história.
A pergunta que agora se impõe não é mais “Bolsonaro tentou violar a tornozeleira?”, mas sim:
O que leva um ex-presidente da República a declarar, diante de uma juíza, que usou um ferro de solda no monitor eletrônico por achar que estava sendo espionado?





























