Em meio a discursos recorrentes sobre crise econômica, retração do consumo e perda de poder de compra da população, um setor se destaca ao desafiar o pessimismo: o mercado automobilístico. Os dados mais recentes revelam um cenário de crescimento consistente, que parece ignorar a narrativa dominante da estagnação. No primeiro semestre de 2025, as vendas de veículos novos cresceram quase 5% em comparação com o mesmo período do ano anterior. E o dado mais surpreendente: no primeiro trimestre, o avanço chegou a superar 20% em relação ao mesmo recorte de 2024.

Esse aquecimento, que poderia ser interpretado como pontual, ganha ainda mais relevância quando inserido no contexto macroeconômico. O Brasil, entre os países do G20, está entre os que mais cresceram em 2025 — um desempenho que contrasta com economias desenvolvidas que enfrentam desaceleração, inflação persistente ou instabilidade cambial. O país, apesar de suas contradições internas, vem apresentando um dinamismo econômico que desafia os rótulos tradicionais de crise.

Mais impressionante ainda é que esse crescimento no setor automotivo ocorre apesar da alta da taxa Selic, que em 2025 voltou a subir como tentativa do Banco Central de conter pressões inflacionárias. Juros mais altos, em tese, deveriam desestimular o crédito e esfriar o consumo — sobretudo de bens duráveis, como automóveis. No entanto, os números do mercado revelam o oposto: há um movimento de compra consistente, puxado especialmente pelas vendas diretas, que em junho representaram 50% dos emplacamentos, com destaque para locadoras, empresas e frotistas.

Outro fator que confirma o vigor do setor é o avanço expressivo dos veículos eletrificados, que registraram alta superior a 40% no semestre, ampliando sua participação no mercado e sinalizando uma transformação profunda no perfil do consumo automotivo no país.

O paradoxo é evidente: enquanto o discurso político e parte da mídia insistem em pintar um cenário de terra arrasada, a realidade se mostra mais matizada. Há, sim, dificuldades — especialmente para as classes mais baixas, que enfrentam juros proibitivos, inflação concentrada em alimentos e desemprego persistente. Mas também há uma fatia da sociedade e da economia que segue em movimento, que consome, investe e aposta no futuro.

Pode-se dizer, portanto, que o Brasil vive uma crise seletiva. Não é uma crise estrutural, tampouco uma bonança generalizada. É um país dividido entre quem ainda busca fôlego e quem já voltou a acelerar. E o mercado de automóveis, com sua capacidade de refletir tendências econômicas e comportamentais, talvez seja hoje o melhor termômetro dessa realidade complexa.

Num cenário global em que tantas economias recuam, o Brasil aparece entre os melhores desempenhos do G20 em 2025, mostrando que há força e capacidade de reação. O desafio, agora, é fazer com que esse dinamismo não fique restrito a nichos, mas se converta em crescimento mais amplo, inclusivo e sustentável. Porque se até os carros estão andando para frente, não faz sentido continuar insistindo que o país está parado.

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