Documento usado por ex-ministro da Justiça para comprovar viagem aos EUA no dia dos ataques golpistas não corresponde aos dados informados; Gol nega existência da passagem
A Procuradoria-Geral da República (PGR) identificou indícios de falsificação em um bilhete de passagem apresentado por Anderson Torres, ex-ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, para justificar sua ausência do país durante os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. A informação consta nas alegações finais enviadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira (14).
Segundo a PGR, a defesa de Torres anexou aos autos um comprovante de viagem com o código localizador “MYIDST”, supostamente relativo a um voo da Gol Linhas Aéreas entre Brasília e Orlando, nos Estados Unidos. No entanto, ao ser consultada oficialmente, a empresa negou que o bilhete correspondesse aos dados de Torres e afirmou não ter encontrado nenhuma passagem emitida em seu nome para o trecho informado.
“A companhia Gol Linhas Aéreas S.A. informou que o localizador MYIDST não condiz com os dados descritos em nome de Anderson Gustavo Torres”, diz trecho da manifestação assinada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
A PGR classifica o fato como “grave” e afirma que a apresentação de um documento aparentemente falso pode configurar novo ilícito penal. O episódio, segundo o órgão, reforça a tese de que a ausência de Torres no Brasil, durante o ataque às sedes dos Três Poderes, foi premeditada e fazia parte da trama golpista investigada.
Torres, que era o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal à época dos ataques, viajou aos EUA poucos dias antes dos atos antidemocráticos. À Justiça, ele alegou que a viagem já estava programada e negou qualquer tentativa de omissão ou conivência.
Entretanto, o Ministério Público Federal afirma que a inconsistência no bilhete apresentado levanta “suspeitas escandalosas” e “deverá justificar a adoção de providências adicionais em relação ao novo fato aparentemente ilícito”.
A defesa de Anderson Torres ainda não se manifestou publicamente sobre a acusação.
Contexto do caso
As alegações finais da PGR fazem parte das ações penais que tramitam no STF e investigam a atuação de integrantes do chamado “núcleo político” da tentativa de golpe de Estado. Além de Torres, nomes como o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ex-ministros Braga Netto, Augusto Heleno e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, também foram denunciados.
A expectativa é que o julgamento ocorra ainda neste segundo semestre, após o prazo de 15 dias para as defesas apresentarem suas manifestações.