A conta da arrogância: tarifa de Trump trava contêineres e ameaça setor pesqueiro brasileiro

A decisão do governo Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, a partir de agosto, já mostra seus primeiros efeitos devastadores — e nem foi oficialmente implementada. Basta olhar para os portos brasileiros: 58 contêineres de pescados estão parados, sem destino, sem perspectiva, esperando que o bom senso volte à mesa das relações internacionais.

Não há como olhar para isso sem indignação. O setor pesqueiro, um dos mais frágeis e sensíveis da cadeia exportadora nacional, está sendo atingido em cheio por uma medida que nada tem de técnica. É, sim, uma ação política, impulsiva, e completamente desconectada da realidade comercial que une Brasil e Estados Unidos há décadas.

E o mais grave: esse não é um caso isolado. Os contêineres parados nos portos são apenas a face visível de um iceberg que ameaça romper toda a logística de exportação do país. O custo é alto. Armazenagem, deterioração de alimentos perecíveis, suspensão de contratos, ameaça ao emprego nos frigoríficos e na pesca artesanal. Tudo isso se desenrola enquanto o Brasil tenta encontrar uma resposta que, francamente, já deveria estar pronta.

A pergunta que fica é: onde está a previsibilidade nas relações bilaterais? Como pode um setor inteiro ser colocado de joelhos por uma canetada? Se a exportação brasileira depende tanto de um único mercado a ponto de travar operações com essa velocidade, talvez o problema vá além da tarifa. Trata-se de uma vulnerabilidade estrutural — e agora, ela foi exposta.

O caso dos pescados é didático: produtos preparados, refrigerados, prontos para embarcar, de repente se tornam inservíveis. Não por erro do produtor. Não por falha sanitária. Mas por um gesto unilateral de um governo estrangeiro, com motivações que beiram o revanchismo ideológico.

Se o Brasil quiser de fato proteger seus setores estratégicos, precisa reagir com firmeza — e inteligência. Não se trata apenas de responder com tarifas ou retaliações, mas de repensar a dependência externa, diversificar mercados, proteger suas cadeias logísticas e, sobretudo, não deixar o produtor à deriva. Porque, neste momento, é isso que está acontecendo: gente trabalhando duro está sendo punida por decisões que ocorrem a milhares de quilômetros, entre uma entrevista e um palanque eleitoral estrangeiro.

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