No entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já não resta espaço para ilusões: a condenação no processo da trama golpista de 2022 é tratada como praticamente inevitável. O julgamento, marcado para a próxima semana na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, deve se estender até 12 de setembro e tende a consolidar um desfecho que o próprio Bolsonaro, em conversas reservadas, já admite como certo.
O cálculo entre aliados não é mais sobre “se” ele será condenado, mas “quanto” tempo de prisão terá de cumprir. A estratégia da defesa mira exclusivamente a dosimetria da pena, buscando reduzir em pelo menos dez anos a punição que, somada pelas diferentes acusações, pode ultrapassar quatro décadas.
Perda de fôlego político
A expectativa de que uma eventual anistia poderia salvar Bolsonaro e outros envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro perdeu fôlego no Congresso. Dividido, o Legislativo não demonstra disposição em bancar uma medida impopular e de difícil costura política. A chamada “guerra” para reverter a situação no campo político parece, portanto, encerrada antes mesmo da decisão judicial.
Chantagem sem efeito
A recente movimentação de Eduardo Bolsonaro, que ensaiou uma espécie de chantagem política ao tentar pressionar o sistema com discursos inflamados e ameaças veladas, mostrou-se inócua. O STF manteve seu cronograma sem alterações, e os ministros demonstraram não se deixar intimidar por retóricas de confronto. O episódio expôs ainda mais a fragilidade da família Bolsonaro diante de um tribunal que já tem maioria consolidada para a condenação.
Defesa aposta em saúde frágil
Com poucas cartas na mesa, a defesa deve insistir em argumentos ligados ao estado de saúde do ex-presidente. Bolsonaro enfrenta problemas de refluxo, crises de soluço que chegam a causar vômitos e hipertensão. Aliados acreditam que esse quadro pode sensibilizar ministros para manter eventual prisão em regime domiciliar, ainda que a sentença seja pesada.
Fim da ilusão
Na prática, Bolsonaro e seu núcleo mais próximo parecem ter aceitado que a “guerra” contra o STF foi perdida. Resta apenas tentar mitigar os danos. O discurso de confronto, antes exaltado, agora dá lugar a conversas em tom resignado — sinal de que o capitão reformado enxerga seu destino político mais próximo da cela do que de um palanque.