A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro pode não ter sido apenas o resultado de uma investigação judicial, mas parte de uma estratégia política cuidadosamente calculada pelo próprio clã Bolsonaro. Em um momento em que os Estados Unidos — especialmente sob influência de Donald Trump — davam sinais claros de abertura para negociar com o governo brasileiro e aliviar a taxação sobre produtos nacionais, a família Bolsonaro viu sua narrativa de confronto internacional começar a desmoronar.
Na última semana, Trump acenou positivamente para Lula, sugerindo que estava disposto a conversar diretamente. Isso abriu caminho para a retirada de diversos itens da lista de tarifas, sinalizando um gesto diplomático importante que poderia fortalecer o Brasil economicamente. No entanto, essa aproximação gerava um problema político: desmontava o discurso bolsonarista de que o país está isolado internacionalmente por conta de um suposto “autoritarismo do Judiciário”.
Diante disso, a reação pareceu calculada: provocar o ministro Alexandre de Moraes até o ponto em que ele decretasse a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Com isso, o clã tentaria gerar indignação internacional — principalmente nos Estados Unidos — e reverter o cenário diplomático, tentando pintar o Brasil como uma nação em perseguição política a ex-presidentes, numa tentativa de atrair solidariedade da extrema direita norte-americana.
Em outras palavras, a prisão seria o gatilho necessário para sabotar o ambiente de negociação com os EUA, provocando atrito entre as instituições brasileiras e o governo americano — ou pelo menos com Trump e sua base. Trata-se de uma jogada política arriscada, que coloca os interesses nacionais em segundo plano para salvar uma narrativa política em ruínas.
Se confirmada essa intenção, o Brasil corre o risco de pagar um alto preço diplomático e econômico por uma tentativa desesperada de manter vivo um discurso de confrontação que já não encontra mais eco nem entre antigos aliados.
