No palco de um evento nacional do Partido dos Trabalhadores neste domingo (3), Lula jogou uma ducha de água fria na autoimagem do PT. Com um tom que misturava autocrítica e um claro recado para os correligionários, o presidente declarou que a legenda precisa urgentemente se organizar para as eleições de 2026, especialmente para ampliar sua bancada no Congresso Nacional.
O dado é realmente inquietante: em 2024, o PT elegeu apenas 70 deputados federais, num universo de 513 assentos disponíveis. Essa vitória apertada contradiz o discurso frequente de que o partido tem uma força maior do que aquela que os números recentemente mostraram. Lula, não por acaso, fez questão de destacar essa contradição: “Se fôssemos bons como pensamos que somos, teríamos eleito mais”.
É um reconhecimento de que o PT não somente perdeu espaço – mas também, potencialmente, a conexão direta com o eleitorado que o elegeu em ciclos anteriores. Mais do que uma admissão, essa fala funciona como um alerta incômodo: a autoimagem positiva do PT pode ser uma armadilha se não for acompanhada de ação efetiva para renovar e ampliar sua representação parlamentar.
O recado implícito é claro. Lula não está apenas cobrando a militância, está dizendo que a estratégia atual não basta para garantir influência política real dentro do Congresso, ambiente crucial para o avanço da agenda do PT e dos aliados. O desafio é duplo: o partido precisa superar suas próprias limitações e também lidar com um sistema político cada vez mais pulverizado e competitivo.
Esse momento de autocrítica deve ser um ponto de virada. Caso contrário, a narrativa do PT como protagonista das transformações sociais fica fragilizada diante dos números. É a hora de revisar métodos, aproximar-se de bases esquecidas, e repensar candidaturas para evitar surpresas desfavoráveis. Lula deu o primeiro passo: reconhecer o erro e convocar mobilização. Agora, cabe ao PT provar que é, de fato, melhor do que pensa ser.