No último sábado, a Polícia Militar capturou dois suspeitos do tráfico de drogas na comunidade conhecida como “Rua da Poeira”, no Jardim Cidade Universitária, zona sul de João Pessoa. Com eles, foram apreendidas mais de 50 porções de maconha, cocaína e crack, além de dinheiro em espécie. A notícia poderia ser apenas mais uma do cotidiano policial, mas reflete problemas muito maiores que insistem em ser ignorados pelas autoridades.
O que chama a atenção é que essa ação, embora necessária, é absolutamente pontual e não resolve o cerne da questão: a persistente e lucrativa cadeia do tráfico em comunidades vulneráveis, que se alimenta do abandono estatal e da desigualdade social. As aparições esporádicas da polícia dão um nó na estrutura local, mas mal arranham o problema.
Além disso, prende-se o elo mais visível, enquanto os grandes responsáveis pelo esquema ficam impunes, ligados a circuitos mais obscuros e bem protegidos. Para cumprir verdadeiramente o papel de segurança pública, seria imprescindível um trabalho integrado que inclua políticas sociais efetivas, educação, geração de emprego e sobretudo a cooperação entre órgãos distintos — não apenas uma abordagem militarizada e isolada.
João Pessoa não é exceção; é um retrato do que acontece em muitas cidades brasileiras. O caso da “Rua da Poeira” revela que a pressão policial pode atingir resultados imediatos, mas o tráfico e seus efeitos nocivos permanecem, alimentando a violência, o medo e a exclusão.
Portanto, fica a pergunta: até quando vamos nos contentar com soluções paliativas que esquecem a raiz do problema? A prisão dos suspeitos é necessária e deve ser celebrada, mas jamais como vitória final. O que se exige da gestão pública e da sociedade é coragem para enfrentar questões estruturais que, se não resolvidas, farão com que esse ciclo se repita indefinidamente, numa espécie de síndrome da “invasão e repressão” constante em áreas marginalizadas.