Em mais uma de suas manifestações públicas desastrosas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) expôs, com todas as letras, a natureza de sua atuação política: vingança pessoal travestida de discurso patriótico. Em vídeo recente, Eduardo declarou: “Se tivermos um cenário de terra arrasada no país, pelo menos eu me vinguei desses ditadores de toga”, numa referência direta e hostil ao Supremo Tribunal Federal. Trata-se de uma fala que escancara o desprezo pelos pilares da democracia, mas, acima de tudo, desmonta a farsa de um suposto patriotismo que ele e sua família tentam encarnar há anos.
O Dicionário Houaiss define “patriota” como “aquele que ama sua pátria e se dedica ao seu bem-estar, mesmo com sacrifício pessoal”. O Aurélio é ainda mais direto: “Pessoa que tem amor à sua pátria e luta por ela”. Não há, em nenhuma concepção séria da palavra, espaço para o tipo de comportamento que Eduardo demonstrou: ameaçar o próprio país, pedir sanções externas contra ele e admitir que prefere vê-lo destruído para satisfazer seu desejo de revanche.
Um patriota verdadeiro defende seu país mesmo quando está em desvantagem, mesmo quando é perseguido — ou julga sê-lo. Um patriota luta pelas instituições, pelas leis, pela soberania nacional. Ele não flerta com a ideia de “terra arrasada”, nem joga gasolina no incêndio institucional apenas para ver seus desafetos “pagarem”. Muito menos articula, nos bastidores internacionais, o isolamento do Brasil como forma de pressionar o Judiciário. Isso não é amor à pátria. É narcisismo político aliado à covardia moral.
Pedir, de maneira indireta ou explícita, que os Estados Unidos punam o Brasil economicamente por conta de decisões do STF é, sim, uma tentativa de chantagem externa contra a soberania nacional. Isso tem nome: traição aos interesses do país. Eduardo não quer salvar o Brasil; quer se salvar do peso das investigações e, se possível, levar seus adversários ao chão, mesmo que, com isso, o país afunde junto.
Essa retórica, que mistura ressentimento pessoal com ataques sistemáticos às instituições democráticas, faz parte de uma estratégia que se arrasta desde antes das eleições de 2018. Mas agora, sem o escudo do Planalto, resta a Eduardo apenas o teatro do exílio diplomático, onde se apresenta como um “perseguido” buscando justiça — ainda que à custa da nação.
Quem ama o Brasil, não ameaça destruí-lo. Quem ama o Brasil, não se alia a potências estrangeiras contra seu próprio povo. Quem ama o Brasil, não transforma o país em palco de sua vingança pessoal.
Se Eduardo Bolsonaro queria deixar claro que nunca foi patriota de verdade, ele conseguiu. E como.