O tabuleiro político da Paraíba para 2026 já começa a se desenhar com uma configuração que mistura rivalidade, alinhamento estratégico e, principalmente, favoritismo absoluto de dois nomes: João Azevedo (PSB), atual governador, e Veneziano Vital do Rêgo (MDB), atual senador. Ambos são protagonistas da cena política estadual e, apesar de estarem em lados opostos na disputa local, convergem no alinhamento com o governo federal do presidente Lula (PT).
João conta com a simpatia de Lula e do Planalto para a sua provável candidatura ao Senado, enquanto Veneziano é, hoje, o principal operador político da liberação de recursos federais para os municípios paraibanos. Com perfil municipalista, Vené lidera uma base de mais de 150 prefeitos, o que o torna uma das figuras mais influentes da política paraibana.
Dois favoritos para duas vagas
A eleição de 2026 traz um detalhe estratégico fundamental: estarão em disputa duas vagas para o Senado. E é justamente aí que surge um dilema tanto para a base governista quanto para a oposição.
O favoritismo quase incontestável de João Azevedo e Veneziano levanta uma pergunta incômoda para qualquer outro possível candidato ao Senado: quem estaria disposto a entrar em uma disputa onde, teoricamente, as duas cadeiras já têm dono?
Se, por um lado, esse cenário fortalece ambos, por outro gera uma dificuldade evidente na composição das chapas. Afinal, tanto situação quanto oposição precisam apresentar dois candidatos ao Senado. O problema é que o espaço que sobra, tanto para o segundo nome da base de João quanto da oposição liderada por Veneziano, seria extremamente limitado e, na prática, fadado a uma derrota praticamente anunciada.
Custo político de uma candidatura sem chance real
Colocar um nome para “cumprir tabela” na chapa pode até fazer sentido do ponto de vista formal, mas carrega riscos. Ninguém quer associar sua imagem a uma campanha onde a derrota parece certa desde a largada. Isso impacta diretamente partidos menores, lideranças emergentes ou até mesmo nomes tradicionais que poderiam cogitar uma candidatura, mas hesitam diante de um cenário tão adverso.
Além disso, disputar o Senado sem chances reais significa também gastar capital político, financeiro e estrutural que poderia ser melhor aproveitado em outras frentes, como candidaturas proporcionais (Câmara Federal e Assembleia Legislativa) ou até na articulação de espaço em futuras gestões.
Quem encara esse desafio?
A pergunta que circula nos bastidores da política paraibana é clara: quem topará ser o terceiro e quarto nome nessa disputa sabendo que, na prática, concorre por fora?
O mais provável é que esses espaços sejam ocupados por candidaturas simbólicas, de partidos aliados que busquem visibilidade, palanque e fortalecimento de legenda, mais do que propriamente a vitória.
Ainda assim, essa configuração escancara um problema real para os articuladores tanto da situação quanto da oposição: como motivar e atrair nomes para uma disputa que já nasce, praticamente, definida?
Conclusão: hegemonia dupla, disputa interna e jogo externo
Se por um lado João Azevedo e Veneziano devem caminhar como adversários no estado, por outro continuam aliados na pauta federal. E o fato de ocuparem praticamente de forma antecipada as duas vagas para o Senado projeta não só uma hegemonia desse campo político, como também coloca um desafio logístico e político para a montagem das chapas.
O jogo, é claro, ainda pode trazer surpresas. Mas, pelo desenho atual, a pergunta mais difícil de responder em 2026 não será “quem vai ganhar?”, mas sim “quem vai aceitar perder?”